domingo, 19 de setembro de 2010

Treze Certezas 1

1. O fim da miséria

A suposta saída de 24 milhões de brasileiros da pobreza absoluta e a entrada de outros 31 milhões na classe média parecem algo bastante impressionante. Sem discutir a veracidade dos números ou dos critérios, que podem mudar a classe social de milhões sem qualquer mudança de renda, cabe pensar tanto no custo como na estabilidade deste suposto progresso.

Se os tais 24 milhões de ex-miseráveis retornarem à situação anterior se a bolsa que os beneficiou acabar, então é sinal de que a estrutura social que criou estes miseráveis permanece intacta. Apenas o governo federal passou a sustentar materialmente um grupo de pessoas que permanece excluído da sociedade. Por outro lado, qual o custo deste mecanismo? Os impostos que geram as receitas de programas sociais pesam proporcionalmente mais sobre as classes média e baixa que nas classes altas. Isto é explicado pelos impostos indiretos que incidem sobre o consumo. Quem gasta mais da sua renda para se alimentar proporcionalmente gasta mais de sua renda em impostos sobre alimentos. Isto vale para tudo o que se consome. Além disso, quem ganha mais aplica o seu excedente, por exemplo, em títulos do governo, que lhes paga mais em juros do que investe em programas sociais. Assim, a euforia da mudança de classe é na verdade uma ilusão. Apesar da necessidade de reduzir a pobreza, isto na verdade se deu custeado principalmente pelos próprios cidadãos pobres e de classe média. Os maiores bebeficiários do suposto "fim da miséria" estão nas classes altas, que aumentaram os seus ganhos pelo crescimento econômico e atingiram uma situação politicamente estável pela pequena melhora de renda nas classes baixas.

Dito de outra forma, o "fim da miséria" é na realidade um mecanismo de perpetuação da desigualdade de renda. A situação econômica mundial que permitiu o ganho absoluto de renda de todos manteve as diferenças relativas. Esta estrutura deformada não foi tocada no governo do sr. Lula, não será no provável governo da sra. Roussef e nem no remoto governo do sr. Serra. Como não há nenhuma razão para crer que algo mudará no futuro, o "fim da miséria" de Lula e Dilma é a miséria do fim das esperanças e a certeza de que o Brasil mudou completamente para continuar exatamente o mesmo.

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