sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Feliz 2003, sra. Dilma Roussef

Amanhã, primeiro de janeiro, a sra. Dilma Roussef receberá do sr. Lula a faixa presidencial. As coincidências com a mesma data de oito anos atrás são grandes. Antônio Palocci como ministro e José Dirceu como eminência parda serão protagonistas e militantes do PT paulista são a maioria do novo ministério, tal como foram no criticado 'paulistério' de antanho. Dirceu chegou inclusive a anunciar que este seria o primeiro governo realmente petista. A figura de Lula, com a sua exuberante xucrice que ofuscou mentes supostamente mais preparadas deverá a ser afastada da realidade, colocada no altar do patriotismo e invocada somente em rituais de exorcismo. A alegria de ser ignorante de Lula dá lugar à sobriedade da instruída Dilma, que dizem ser inclusive uma mulher de cultura literária.

Em relação ao primeiro governo Lula, as expectativas são pequenas, algo desejável para a nova ocupante da cadeira presidencial. Acredita-se no continuísmo, mas eu não apostaria todas as fichas neste cavalo. Mais experientes, os petistas já sabem que é melhor cobrar impostos de empresas privadas do controlar empresas estatais, que é melhor moeda forte que inflação, já cometeram erros que seus adversários não souberam aproveitar para derrotá-los, e não devem cometê-los novamente. A condição oposicionista é difícil, são poucos e medíocres, sendo Aécio Neves a única figura de destaque.

Porém, uma incerteza paira no ar: os ideais da esquerda nacionalista que nortearam a criação do PT e a sua chegada ao poder provavelmente não foram totalmente trocados pelo pragmatismo, e a sua implementação ganha nova chance. Sem o viço da juventude da posse de Lula, os petistas têm, aos 30 anos, a mesma oportunidade que tiveram aos 22. Mais um milagre de Lula, que consolidou o poder petista e praticamente girou o relógio político no sentido anti-horário. Não poderíamos finalizar sem desejar um feliz no velho à sra. Dilma Roussef.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Campo da Ostra

Começou a temporada de invenção histórica. A saída de Lula do Planalto será acompanhada por uma campanha pela sua entrada no imaginário brasileiro. Primeiro é a mudança do nome do campo de Tupi do pré-sal para campo de Lula. Moluscos e outros monstros marinhos devem nomear tais campos, ouvi dizer. Em todo caso, é ridículo acreditar que foi uma escolha justa para com os outros seres das profundezas. Logo aparecerão avenidas e praças com o seu nome. Também já deram-lhe o título mundial de popularidade: 87% contra 84% de Michele Bachelet e 82% de Nelson Mandela ao final dos respectivos governos. Relevância destas pesquisas a parte, será razoável comparar tais resultados independentemente da sua confiabilidade e dos seus métodos? Irrelevante, é claro, sobretudo para os marqueteiros de plantão e para a arraia miúda.

Por outro lado, fora do Brasil Lula parece que já meteu os pés pelas mãos, o que o tornará figura impopular. Apoia os polêmicos regimes de Cuba, Irã, Bolívia, Equador e Venezuela, asilará Cesare Battisti, se regozijou publicamente da crise européia e americana, apoiou Manuel Zelaya em Honduras, promove um rearmamento brasileiro que pode desencadear uma corrida armamentista na América do Sul; resumidamente, um desastre. Suas pretensões internacionais estão restritas à África e à América Latina, não sem ressalvas. Ou seja, paira sobre Lula uma ameaça de ostracismo, pois ninguém está imune às intempéries que afligem a existência humana, cuja felicidade, jamais é estável.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Wikileaks Brazil

Depois da tormenta da divulgação da correspondência diplomática pelo Wikileaks, o caso começa a se tornar menos interessante para a imprensa, e a menos que algo novo surja, o episódio não terá maiores repercussões. Ninguém falou exatamente quais são os segredos estratégicos divulgados e que colocariam a segurança nacional americana e de outros estados em risco. Mais do que qualquer informação relevante, o que os altos funcionários não gostaram foi de ter a sua mediocridade revelada. No que se refere ao Brasil, um fato me chamou a atenção: a política militar. Os americanos ficaram perplexos com o interesse brasileiro em investir em aviões e submarinos sem ter qualquer inimigo visível no horizonte. À medida que o Brasil quiser aparecer pela ostentação de um poderio militar, é possível que este inimigo apareça. Pode ser a Colômbia, a Argentina, a Venezuela ou mesmo os EUA. É infantil procurar um inimigo para tentar se auto-afirmar, mas é o que o governo brasileiro quer, e não deverá mudar no governo que se inicia em janeiro próximo.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Quércia: pena que não existe inferno

Orestes Quércia, ex-governador de São Paulo, está morto. Seu governo e o de seu continuador, Luiz Antonio Fleury Filho, foram bastante ruins. A indústria automobilística, como sempre, se deu bem: foram muitas estradas para os felizes proprietários de automóveis. O transporte ferroviário continuou seu processo de sucateamento com a deterioração da Fepasa. Por outro lado em seu governo foi construída a hidrovia Tietê-Paraná. Um ponto positivo em contradição com o suposto favorecimento às rodovias, alguém pode argumentar. Entretanto, a tal via fluvial é de pequena utilidade se não estiver acoplada a outros transportes, sobretudo o ferroviário. Ou seja, foi uma obra isolada, de custo elevado, que foi útil na eleição de Fleury mas teve um impacto mínimo na matriz logística do estado. Também não se pode esquecer o caos financeiro que seguiu-se à megalomania destes senhores, com a capacidade de investimento do estado estrangulada durante alguns anos. A venda do Banespa foi necessária para cobrir o rombo gerado pelas obras tocadas sem a devida engenharia financeira. Não que depois da cobertura do rombo algo tenha mudado na política de investimentos do estado, mas o fato é que Quércia foi mais um desta linhagem. Todos costumam ser considerados bonzinhos após a morte; esta é a tradição brasileira, da qual comungo. A morte de Quércia é uma boa notícia e só não é melhor pois não ocorreu há 25 anos, antes da sua eleição para o Palácio dos Bandeirantes.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Sistema internacional lulista de medidas

Lula diz que a solução dos conflitos no oriente médio passa por um aumento do número de mediadores para as negociações. Digamos que é uma afirmação, no mínimo, temerária. Qual o papel do mediador numa negociação? Aparentemente Lula acha que é pressionar uma das partes a aceitar a proposta do oponente. Ou seja, ao invés de mediar, o árbitro se coloca ao lado de uma das partes envolvidas. Talvez Lula e seus assessores de relações exteriores achem que os EUA tomam o lado israelense e então outros participantes entrariam para auxiliar os palestinos. Algo que pode não estar totalmente errado, mas a solução proposta pela entrada de mais mediadores certamente não mudará o quadro.

Idéias como esta são comuns na visão que o PT e outros esquerdistas têm das relações internacionais. Se tal fato se materializasse, seria uma reedição da guerra fria, onde americanos e soviéticos disputavam a influência sobre países politicamente instáveis. Este tipo de política internacional interessa apenas aos governantes brasileiros ávidos de poder fora das fronteiras do seu estado e aos EUA, naturalmente. Afinal, os americanos não têm adversário militar e nunca vão ceder à pressão de quem quer que seja. Os povos dos estados envolvidos em tal negociação são os menos interessados. Primeiro pois normalmente tais populações são mantidas em estado de guerra ou de autoritarismo pelos seus próprios compatriotas, segundo pois os seus defensores externos os utilizarão como objeto de disputas comerciais e e políticas entre os mediadores que nada têm a ver com o conflito particular. Ou seja, tal mediação não leva à solução de nenhuma disputa entre partes, pois a solução é totalmente desinteressante aos mediadores, que perderiam uma arena de atuação internacional. Mais uma vez, Lula perde a chance de ficar calado.

sábado, 18 de dezembro de 2010

O comunismo tupiniquim

O aumento dos salários congressistas em mais de 60%, o triplo da inflação acumulada no período sem aumentos, é totalmente absurdo e injustificado. Em todo caso, episódios como esse servem para entender como funciona a engrenagem política brasileira. Existe uma política eleitoral feita de palavras e uma política de ações que nada tem a ver com aquele discurso.

Em momentos como esta votação, como em quase todos fora da disputa eleitoral, as divergências ideológicas desaparecem completamente. Vamos ver o chamado PC do B. A ideologia comunista propõe que as diferenças econômicas entre as classes sociais sejam suprimidas. Uma maneira de atingir este intuito é conceder aumentos salariais maiores a quem ganha menos e não o contrário. Eu tenho duas hipóteses para explicar o comportamento do deputados ditos comunistas. A primeira é que talvez os parlamentares comunistas acreditem que a única maneira de forçar a revolta popular que levará ao comunismo seja o agravamento das diferenças econômicas entre as classes e isto levaria à revolta. É claro que esta é uma estratégia de alto risco para o pescoço dos revolucionários de gabinete, pois os revoltosos provavelmente priorizariam a eliminação destas figuras supostamente causadoras da própria revolução. Como brasileiros não são muito afeiçoados ao sacrifício pessoal em prol de outrem, suponho que esta hipótese possa ser afastada.

Uma outra possibilidade seria um nivelamento de classes por cima, e posteriormente os deputados fariam algo para elevar a base da pirâmide social em direção ao seu topo. Qualquer semelhança com a história de primeiro crescer o bolo e depois repartí-lo do ex-ministro Antonio Delfim Netto não me parece mera coincidência. Na verdade é totalmente consistente com uma tradição politica brasileira que remonta ao período imperial. O parlamentarismo às avessas daquele período, onde primeiro se elegiam os políticos e depois fazia-se a eleição é bastante parecido. Os nossos nada criativos marxistas copiaram a idéia e chegaram no comunismo às avessas. Acho que esta explicação faz sentido e corrobora a atuação de figuras como o rastejante Aldo Rebelo, a deputada patricinha Manuela D'Ávila e os demais espertalhões que exploram o nicho do mercado eleitoral formado pelos comunistas que apreciam ser enganados.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A alma-penada da crise assombra Lula e Mercadante

Alguém se lembra da crise do subprime de 2008? Parece até algo acontecido num passado mais remoto que a crise de 1929, o seu retrato apocalíptico em branco-e-preto. Confiando no esquecimento e numa possível burrice de quem os ouvia, alguns políticos brasileiros espalharam análises apressadas e simplórias, dignas do seu estado intelectual precário.

Talvez a palavra análise não seja a mais adequada para descrever a opinião destes senhores, pois esta se resumiu a uma frase a ser repetida como um mantra por seus seguidores incautos. A tal máxima, proferida pelos senhores Lula e Aloísio Mercadante, era algo como: "a crise do subprime sepultou as teorias de não-intervenção do estado na economia dos países". É claro que Lula entende menos de economia do que futebol, mas esperávamos que o sr. Mercadante, professor universitário e doutor em economia, soubesse que é preciso um pouco de tempo para entender um fenômeno complexo, cujos efeitos são sentidos no médio e até no longo prazos, e que é preciso mais cautela antes de dizer que todo um conhecimento acumulado deve ser atirado ao lixo.

Passados dois anos, a crise arrefeceu mas os seus efeitos perduram nos EUA e na Europa. Para combatê-los, os governos que encharcaram seus mercados financeiros com dinheiro público começam a cobrar pelo serviço de atenuar a crise de uma maneira bastante ortodoxa: o corte de gastos públicos. A mesma providência que Lula e Mercadante acreditaram ter ficado para o currículo da oposição reacionária, causadora da crise através do seu liberalismo selvagem. Nesse momento, os citados políticos mantém o bico calado e a esperança que esta análise econômica se perca no acervo de idiotices que compõem os seus discursos.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Instituto: você também pode ser um

Lula diz na cidade de Estreito, no Maranhão, que políticos eleitos são instituições, e por isso devem ser respeitados. Nada mais coerente com a sua visão autoritária da política. Já falei deste assunto anteriormente, então não vou me estender. Mas o fato é mais uma evidência de que Lula não entende que todas as pessoas, inclusive os políticos, deveriam ser iguais perante a lei. No Brasil, esta igualdade não existe, dadas as imunidades parlamentares. O fato de tais instituições de carne e osso precisarem ser respeitadas pelo cargo que ocupam é apenas mais um agravante, pois a mensagem é que quem não é cidadão-instituto não precisa ser necessariamente respeitado. Lula é um retrato do Brasil, do que ele tem de pior, que é o autoritarismo granulado em pequenas atitudes cotidianas tal a observada na inauguração da comporta da hidrelétrica maranhense.