segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Lula e o New Deal brasileiro

Recentemente o sr. André Singer publicou um artigo entitulado "o lulismo e seu futuro" na revista Piauí. Nele, o governo de Lula é comparado com o de Franklin Delano Roosevelt nos EUA. No período considerado, houve uma grande redução da pobreza naquele país, e Singer acredita que Lula uma deixa um legado semelhante aos que o sucederão, pois terão de manter suas políticas sociais independente da cor partidária. Segundo Singer, quem não comprometer-se com a redução da pobreza, não terá chances eleitorais no Brasil.

Bem, vamos com calma. O sr. Singer é, ou foi, assessor de comunicação da presidência da República, e, pelo currículo de Lula, jamais poderia dizer algo que o desagradasse. Assim, o artigo recende a propaganda governamental travestida de análise.

Primeiro, como foi obtida a redução da pobreza em ambos os países? Nos EUA de Roosevelt, através do estímulo ao emprego pelo estado. O governo Lula também estimulou bastante o emprego através da manutenção da política monetária do governo FHC e pelo estímulo ao crédito ao preço do aumento do endividamento interno. Ele também foi muito favorecido pela conjuntura econômica mundial, o que não aconteceu com Roosevelt, que enfrentou a crise dos anos 1930. Programas de distribuição de renda como as bolsas sociais não foram empregadas nos EUA. Além disso, em 1930 os EUA eram um país mais industrializado do que o Brasil de Lula, cujo crescimento econômico foi baseado na exportação de commodities agrícolas e minerais e produtos montados no Brasil com componentes importados.

Assim, o que Roosevelt e Lula têm em comum? apenas uma vocação intervencionista do estado na economia, e a comparação seria possível com muitos outros governos com esta característica. A política monetária e a conjuntura internacional não são obra de Lula, e sem elas seu governo estaria arruinado.

Porém, o efeito eleitoral de Lula foi até agora bem-sucedido. Através das bolsas que não geram mudanças sociais duradouras, Lula conseguiu ajudar bastante sua sucessora na região nordeste. A outra parte da ajuda foi devida à geração de empregos no sudeste.

Ou seja, oRoosevelt e Lula têm mais diferenças que semelhanças. O sr. Singer explicita o colonialismo intelectual do qual é fruto através do seu texto. Ele busca colar a imagem de Lula na de um personagem histórico que tem uma imagem positiva e, mais importante, é um estrangeiro. Como a personalidade em questão é americana, o autor usa uma terminologia com um claro ranço de sindical para tentar evitar ser considerado pró-imperialismo pelos seus colegas de ofício. Uma peça literária que, tal como Lula, terá o lugar histórico que merece.

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