domingo, 2 de janeiro de 2011

Dilma, a presidenta muita competenta

Começa sob maus auspícios o reinado da sra. Dilma Roussef, pelo menos é o que se depreende dos seus dois discursos na cerimônia de posse. O primeiro deles foi bastante bem criticado por Demétrio Magnoli numa entrevista que pode ser vista na TV Estadão e cujos argumentos não repetirei. A minha primeira impressão destes pronunciamentos é que eles mostram a completa falta de criatividade da sua autora. A primeira evidência deste fato é a maneira como ela dirige-se aos seus governados: "queridos brasileiros e queridas brasileiras". Qualquer semelhança com os discursos de José Sarney não é coincidência. Além disso, utilizar-se de um bordão criado por um dos piores presidentes da história brasileira indica que ela não vê como grave o desastroso governo de Sarney. Talvez seja um afago a um de seus maiores aliados, como pode ser visto na influência deste último no ministério de Dilma, ou talvez exista uma admiração intelectual por Sarney, além da acomodação de forças políticas. Qualquer uma das hipóteses me parece péssima.

No conteúdo dos discursos a sua forma a falta de inventividade fica patente. No primeiro deles, no plenário da câmara dos deputados, Dilma repetiu promessas eleitorais. Não foi capaz de traduzir as metas de crescimento econômico e reformas legais em valores. É de esperar-se que os valores, que são os fins, precedam as ações, que são os meios. Dilma não sabe disso, ou não é capaz de relacionar as duas coisas. Ao ar livre, no parlatório e dirigindo-se diretamente à população ali presente, repetiu trechos inteiros do discurso anterior. Ou seja, no primeiro discurso não conseguiu dizer nada do que já não tenha dito e no segundo não conseguiu sequer dizer as mesmas coisas de outra forma. Além da má qualidade dos textos, é oradora inconstante, interrompe o discurso para pensar e transmite uma sensação de insegurança. Decididamente esta senhora não tem o dom da palavra.

Outra evidência da falta de imaginação de Dilma está num pequeno detalhe, ela chama-se de presidenta e não presidente. Mais uma vez, uma cópia. A polêmica do uso do termo já existe com a presidente Cristina Kirchner da Argentina, que também quer ser chamada de presidenta. Meu léxico on-line me informa que o vocábulo existe, mas tenho uma certa má-vontade com ele. Me explico: presidente vem do verbo presidir, e é aquela pessoa que preside, assim como amante é quem ama, estudante quem estuda, assistente quem assiste, etc etc. Por esta razão não dizemos amanta, estudanta ou assistenta. Esta forma tem origem no antigo particípio presente do latim, que é algo assemelhado ao gerúndio, uma forma que transmite a idéia do tempo presente. Esta sensação também pode ser obtida de adjetivos com terminação semelhante à dos substantivos supracitados, como constante, incessante, atuante, retumbante, etc. Podem dizer que este é um fato irrelevante, mas em certos detalhes é possível observar algo que se queria ocultar. A primeira coisa é o boato de que Dilma seria uma pessoa de grande cultura. Duvido muito, pessoas cultas normalmente conhecem sua língua com alguma profundidade, o que parece não ser o caso. Isto também pode ajudar a entender a preferência de Lula por Dilma. Ignorantes como Lula não têm muita afinidade pelos cultos e se ele escolheu Dilma para ser sua sucessora, talvez eles tenham mais em comum do que pareceria numa primeira observação. Um segundo problema é a superstição que está embutida no uso da linguagem. Supersticiosos acreditam no poder sobrenatural das palavras, mesmo das que vêm desacompanhadas de ações. Talvez algumas feministas acreditem que o uso da palavra presidenta tenha a capacidade de inculcar na cabeça de quem a ouve a idéia de igualdade gêneros, algo característico da palavras-mágicas de contos de fadas. Finalmente, a insistência de Dilma em chamar-se de presidenta demonstra seu lado autoritário, pois indica que Dilma acredita que o cargo que provisoriamente ocupa lhe faculta o direito de outorgar leis gramaticais como quem cria impostos. Talvez em breve ela queira mudar também a concordância de outras palavras que atualmente não sofrem flexão de gênero, e então o título desta postagem segue como sugestão para a língua futura.

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